(Hesito entre o mundo grave e a gravidade do mundo)

08/06/05

esse poder que me desfoca...

"Mas os olhos dos maus esgotar-se-ão de procurar: falter-lhes-á todo o refúgio, e a sua esperança será exalar o último suspiro". Haverá poucas sentenças tão terríficas como esta do Antigo Testamento - servido na versão portuguesa dos frades Capuchinhos.
Quem assim fala não é o deus do dilúvio ou das sete pragas do Egipto, esse que nos inebria com o espectáculo do poder. É o deus que pede o inconcebível: Abraão louco de amor pronto para o sacrifício do próprio filho. O deus que joga aos dados pela cabeça das suas pequenas criaturas: Job alvo de todas as provações até à reafirmação da fé - mas inventando de permeio um primeiro humanismo. Um deus cortante, sem pressa, com a frieza de uma lâmina.
O verdadeiro poder serve-se assim: frio! É um privilégio de quem pode esperar...pelo esgotamento, pelo delírio, pelo crime. Imprime na carne as marcas da ansiedade e da angústia: a interrogação contínua, a busca sem fim...
Os meus olhos esgotar-se-ão de procurar!...