(Hesito entre o mundo grave e a gravidade do mundo)

07/01/06

O Futuro (texto acrescentado)

Haverá poucas palavras que o discurso político tenha banalizado tanto quanto esta. Não há cartaz ou outdoor de campanha eleitoral que a dispense: Rumo Ao Futuro; Ganhar o Futuro... Nem candidato que não a tenha pronta a servir em qualquer circunstância - "O que importa é o futuro!...", dizem. Assim, sem mais, como se o futuro fosse significante em/de si mesmo. E como se já amanhã pudéssemos entrar limpos nele, como se entra num vaso vazio. No advento da modernidade, quando o Futuro desceu do céu para a terra, tornando-se um horizonte de optimismo profano, havia ainda um passado para onde olhar - o da Antiguidade Clássica. E embora esse fosse um olhar de superioridade, era-o apenas por um efeito de acumulação: "Comparados com os Antigos, somos anões, mas estamos aos seus ombros", era a fórmula feliz saída da querela dos Antigos e dos Modernos. Hoje, os nossos políticos tornaram-se esquizóides, em fuga de um passado e de um presente que nenhum quer assumir.


O Futuro é ainda uma espécie de oásis no deserto da História. Mas já nada tem para oferecer que não seja a sua própria concretização vazia. A esperança e a coragem ausentaram-se da sua enunciação.