Ao que parece o arrastão de Carcavelos não existiu. A natureza do acontecimento e o número dos implicados foi uma fabricação dos media. Ora, como os desmentidos, quando os houve, se ficaram por notas de rodapé, na memória colectiva o que fica é um não-acontecimento.
Para grandes franjas da população, o medo mais do que socialmente experienciado é hoje, em grande medida, o produto de uma mediação acrítica, imbecil, da generalidade dos meios de comunicação social. E é um medo encostado a velhos fantasmas. A radicalidade do não-acontecimento faz figura de caos à espreita - não espanta que quem saiba do mundo apenas pelos media, e sobretudo pelas televisões, espere encontar em cada esquina um pedófilo, um agressor, ou uma multidão de 500 putos pretos acoitados na Betesga para tomar de assalto o Rossio. E pede com urgência uma explicação. Normalmente uma explicação que reafirme a sociedade nos suas certezas mais selvagens: o território, o sangue, a cor da pele, o fanatismo, o ódio... Neste caso de Carcavelos, o racismo e a xenofobia. Esquece-se que os malfeitores só têm uma pele: a do xadrez que merecem.
Estamos a precisar de um novo Iluminismo! Uma hipótese: na gala comemorativa dos 30 anos da independência de Cabo Verde, o embaixador daquele país em Portugal propôs brindar os portugueses presentes com um arrastão...de amor. A noite e os artistas, valha a verdade, nem sempre estiveram à altura do propósito. Mas houve um momento-chave. Quando Mayra Andrade nos tons quentes da morna cantou "Você invadi nha coraçon". É isso: na relação com o Outro só nos deveríamos permitir um tipo de totalitarismo: invadir o coração...
Para grandes franjas da população, o medo mais do que socialmente experienciado é hoje, em grande medida, o produto de uma mediação acrítica, imbecil, da generalidade dos meios de comunicação social. E é um medo encostado a velhos fantasmas. A radicalidade do não-acontecimento faz figura de caos à espreita - não espanta que quem saiba do mundo apenas pelos media, e sobretudo pelas televisões, espere encontar em cada esquina um pedófilo, um agressor, ou uma multidão de 500 putos pretos acoitados na Betesga para tomar de assalto o Rossio. E pede com urgência uma explicação. Normalmente uma explicação que reafirme a sociedade nos suas certezas mais selvagens: o território, o sangue, a cor da pele, o fanatismo, o ódio... Neste caso de Carcavelos, o racismo e a xenofobia. Esquece-se que os malfeitores só têm uma pele: a do xadrez que merecem.
Estamos a precisar de um novo Iluminismo! Uma hipótese: na gala comemorativa dos 30 anos da independência de Cabo Verde, o embaixador daquele país em Portugal propôs brindar os portugueses presentes com um arrastão...de amor. A noite e os artistas, valha a verdade, nem sempre estiveram à altura do propósito. Mas houve um momento-chave. Quando Mayra Andrade nos tons quentes da morna cantou "Você invadi nha coraçon". É isso: na relação com o Outro só nos deveríamos permitir um tipo de totalitarismo: invadir o coração...