Passaram por cá em 2004. Regresso a eles com prazer: "Lost in Translation" e "The Eternal Sunshine of The Spotless Mind".
No primeiro, temos um homem e uma mulher que se cruzam num "lugar estranho". E é o reconhecimento do que há de irredutível nessa estranheza que os aproxima. É um encontro breve, com a beleza fugaz de um cometa. São dois seres que, no limiar de uma experiência que expõe as fragilidades de ambos, "se roubam mutuamente a solidão e o amor" (René Char). No fim, o que têm? São pessoas diferentes? Houve quem se apressasse a dizer o óbvio: "Terão sempre Tóquio", como a propósito de outro par se disse "terão sempre Paris". Mas não é verdade. Terão só a memória da sua perda; a perda de uma experiência como que vivida acima do chão - lá onde a imponderabilidade é o coração inadiável, pulsante, nascendo na praia.
No segundo, a estranheza não é algo que se impõe de fora, a partir de um cenário. É, antes, algo que atravessa as personagens por dentro, que as vai conquistando sob a pele, mergulhando-as na impotência. É a estória de como o quotidiano envolve a paixão num abraço mortal. Mas é, sobretudo, uma estória de salvação- quando entramos no filme já estamos dentro dela, embora não o possamos ainda saber. Tudo é memória: chamada para a vida, chamada para a morte. Carey queria apagar a sua, mas a meio do processo arrepende-se. Mergulha, então, nela. É uma viagem emparedada entre a vertigem e o apagamento. No meio há o desconchavo, o labirinto das recordações. E o esforço de Carey para se esgueirar, para descobrir pontos de fuga. Como se nada estivesse fechado. Como se o tempo e o espaço pulverizados oferecessem o milagre: a possibilidade de tudo recomeçar uma e outra vez
No primeiro, temos um homem e uma mulher que se cruzam num "lugar estranho". E é o reconhecimento do que há de irredutível nessa estranheza que os aproxima. É um encontro breve, com a beleza fugaz de um cometa. São dois seres que, no limiar de uma experiência que expõe as fragilidades de ambos, "se roubam mutuamente a solidão e o amor" (René Char). No fim, o que têm? São pessoas diferentes? Houve quem se apressasse a dizer o óbvio: "Terão sempre Tóquio", como a propósito de outro par se disse "terão sempre Paris". Mas não é verdade. Terão só a memória da sua perda; a perda de uma experiência como que vivida acima do chão - lá onde a imponderabilidade é o coração inadiável, pulsante, nascendo na praia.
No segundo, a estranheza não é algo que se impõe de fora, a partir de um cenário. É, antes, algo que atravessa as personagens por dentro, que as vai conquistando sob a pele, mergulhando-as na impotência. É a estória de como o quotidiano envolve a paixão num abraço mortal. Mas é, sobretudo, uma estória de salvação- quando entramos no filme já estamos dentro dela, embora não o possamos ainda saber. Tudo é memória: chamada para a vida, chamada para a morte. Carey queria apagar a sua, mas a meio do processo arrepende-se. Mergulha, então, nela. É uma viagem emparedada entre a vertigem e o apagamento. No meio há o desconchavo, o labirinto das recordações. E o esforço de Carey para se esgueirar, para descobrir pontos de fuga. Como se nada estivesse fechado. Como se o tempo e o espaço pulverizados oferecessem o milagre: a possibilidade de tudo recomeçar uma e outra vez